quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Capítulo Um: O Escolhido...

Lembro-me como se fosse ontem... Toda aquela vitalidade, ambição e vaidade. Nunca acharia outro mortal mais preparado para o que eu planejava, só precisei de um plano simples para trazê-lo para o meu lado. Seu nome era Raphael Machado; vou contar-lhes como tudo aconteceu.

Eu estava lá, desde o momento em que o mundo o recebeu, infelizmente, para mim, ainda não podia me aproximar dele, pois emanava uma luz muito forte, anormal para um recém nascido. Isso sem contar com aqueles bastardos alados sem vontade própria o cercando. Para minha tristeza, ainda haveria outros obstáculos a serem superados. Um deles poderia ter sido a sua raquítica avó, porém ela poupou-me o trabalho e falaceu quando ele ainda era um bebê... Ah, sim..., seus devotados pais... Morreram de uma forma tão 'trágica', num acidente de carro; o que foi? Por que está me olhando assim? Eu não tive nada a ver com aquilo, eu juro... Mas voltando à história...

Ele sempre foi uma criança realmente pura de coração, um tipo de ser humano raro nos dias de hoje. Assim que o garoto começou a andar, comecei minhas investidas, e fiz de tudo para que ele se tornasse o tipo mais desprezível de pessoa... Totalmente em vão, seu caráter no decorrer dos anos apenas se fortalecia, ficando praticamente inabalável, me lembravam Noé e muitas das vezes o próprio Jó, mas não desviemos o assunto. Toda aquela moral e baboseira de seguir o caminho do bem me soavam como 'blábláblá', chegava a me dar repulsa, mas era isso que mais me motivava, ele passou a ser o desafio da minha eternidade.

Tentei brigas, e tentações de todo o tipo... Nada dava certo, foi aí que resolvi apelar para a maior fraqueza do ser humano, principalmente de todo homem: o amor de uma mulher...

Raphael era apaixonado por uma garota chamada Cassandra, sua amiga de infância. Aos 14 anos, Raphael ainda era covarde demais para dizer a ela o sentimento puro e verdadeiro que sentia, que ia além de amizade. Como eu não podia aproximar-me de Raphael, comecei então, a bombardear ou influenciar, se prefirir, a mente da sua incondicionalmente amada, Cassandra; às vezes em sonhos, outrora enquanto acordada, por mim, o que importava, de fato, era o resultado... Como assim 'bombardear a mente'? De uma maneira bem simples, e para que um mortal, tão limitado como você entenda... Aticei nela desejos e pensamentos... Eróticos... Sim, ela começou a ter 'sonhos' e a desejar mais do que nunca o nosso protagonista, Rapahel. Tamanho foi o desejo dela, que foi ela quem deu o primeiro passo, eliminando de vez o medo de Raphael. Como eu tinha certeza de que funcionaria? Ora, meu amigo! Minha sabedoria é limitada, porém sua mente humana é frágil demais para compreender os limites dela, além disso, já existo há muito tempo, tempo o suficiente para entender a natureza da 'maior criação' dEle; macacos bípedes, grande coisa... Voltemos ao assunto, onde eu estava? Ah, sim, claro... No fim das contas, os dois começaram a namorar, assim que entraram no colegial. Cupido? Eu, bonzinho? Desculpe, mas desse modo você me insulta, aliás, cada suspiro seu me incomoda; deixe-me terminar, afinal, não uni os dois a toa. Durante três anos, deixei os dois desfrutarem um do outro, sem nenhuma interferência minha. O que eu fiz nesse meio tempo? Tratando de alguns assuntos, trabalho, negócios, acertar alguns detalhes com 4 amigos que mal podem esperar pelo Apocalipse, mas nada que seja realmente da sua conta, mortal...

Passado o período de três anos, fui rever meu amigo Raphael. Naquele ano, ele e Cassandra terminavam o colegial e haveria um baile no final do ano, com direito àquela baboseira e besteirol todo; humanos... Enfim, era uma oportunidade com a qual fui presenteado pelo acaso para a segunda etapa do meu plano.

Naquela noite, tomaria de Raphael seu bem mais precioso, Cassandra... Fiz questão de fazer isso eu mesmo. Tudo que precisei foi assumir minha forma antiga, dos tempos em que eu estava acima de todos, nenhuma mortal resistiria a tamanha beleza... Quando chegaram, fiz com que em meio aquela aglomeração no baile, eles se separassem, foi aí que entrei em cena. Bastou apenas um olhar e a doce Cassandra entregou-se a mim. Nunca me esquecerei daqueles lábios... Tão repulsivos e indignos do meu ser; para a minha sorte, não durmo, logo não tenho sonhos ou , no caso, pesadelos... Raphael presenciou aquela cena, aquilo era algo que nunca teria passado por sua cabeça se não tivesse visto com seus próprios olhos; ainda me lembro da feição de decepcão, tristeza, e ódio, tudo ao mesmo tempo... Para mim, algo muito cômico.

Como de se esperar, logicamente tudo ocorreu como eu planejei. Raphael e Cassandra tiveram uma briga e acabaram terminando o que parecia ser um amor de conto de fadas; infelizmente essa é a vida real, portanto... Não existe 'felizes para sempre'...
Pra que isso tudo? Você realmente não percebeu a grandeza de meu plano? Naquela noite, foram plantadas no coração de Raphael, as sementes do ódio, remorso, desconfiança e tristeza. Dali pra frente, seria tudo mais fácil, nada de luz ofuscando meus olhos, nada daqueles enjoados alados sem vontade própria rodeando Raphael, o meu caminho estava livre.

Passado um certo tempo, após esses acontecimentos, Raphael entrou para uma banda como guitarrista, ele já possuia uma certa aptidão e talento para a música. A banda teve um certo êxito, era conhecida na cidade, e começava a ter seu nome espalhado pela região. Raphael se tornara o que podemos chamar de 'bon vivant', com seus 18 anos, saindo em um dia, voltando para casa dois dias depois, fumava, de vez em quando chegava a usar algumas drogas, um jovem comum nos dias de hoje.

Meu próximo passo, era plantar-lhe o ódio total por um determinado Ser. Do jeito que estava levando a vida dele, não seria difícil.

Com a morte de seus pais, Raphael passou a viver com seu avô. Matá-lo? Ora, calma, não iria tirar a vida dele assim, de repente; até por que isso não teria a mínima graça. Resolvi matar aquele velho lentamente, mandando-lhe um presente... Tuberculose.

Ele adoeceu, e passados 2 meses doente, no hospital. Em seu leito de morte, Raphael ficava se queixando e questionando ao seu lado.
- Afinal, que Deus é esse? Ele não é o Todo Poderoso e misericordioso? Você só tem 62, avô, não merece morrer assim...
- Deus sabe o que faz, meu filho...
- Não é o que parece... Parece mais que ele é um garoto com um bisturi nas mãos e nós somos os sapos que seremos dissecados na aula de ciências!
- Não fale assim, Raphael. Tudo tem seu propósito, seja ele determinado, ou não por Deus. Não alimente esse ódio, garoto... Ele só fará mal a você....

Essas foram as últimas palavras de seu avô antes de falecer. Você tinha de ver a cara dele, toda aquela frustração e ódio. Nasceu ali, um novo Raphael, mais forte e preparado para o que viesse. Ali, ele se tornava invencível, alguém que realmente não tem pelo que viver...

(Não esqueça de comentar, fui xD)

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