sábado, 24 de dezembro de 2011

Capítulo 4: Meus olhos se abriram... (parte Dois)

Sequer a metade... ele ainda não havia usado metade do seu poder, mesmo lutando contra os cinco, de uma só vez. Era algo realmente impressionante. Naquele momento, apesar de não transparecerem, eu podia sentir um forte temor nos meus irmãos e, confesso, também começava a sentir isso levemente, entretanto minha sabedoria e sensatez me permitiam controlar melhor isso. Mas isso estava longe de ser o suficiente para derrotá-lo

- Não serás triunfante nessa batalha, criatura tenebrosa! - exclamou Asriel, levantando-se novamente, empunhando sua lança.
- Não te apresses, irmão - eu o adverti.
- Sejas prudente, inseto, e ouças a voz de teu irmão, para que não acabe morrendo.

Se aquele teimoso tivesse me dado ouvidos, ele não teria sofrido tanto. Por sorte, Zasalamel teve piedade dele, quando mais uma vez, meu irmão o atacou sozinho, aliás, creio que ele teve sorte.

- Como consegue ser tão fútil?

Em sua segunda investida contra aquele monstro, Asriel, surpreendentemente, teve um assombroso aumento de desempenho trocando golpes com Zasalamel, porém, claramente não teve sucesso e foi mais uma vez chutado aos nossos pés.

Minha mente não aceitava como e por quê existiria algo tão poderoso e ao mesmo tempo tão repleto de maldade. De onde ele veio? O que ele queria? "E agora!?... Como podemos enfrentar uma coisa dessas?" pensei. De repente, pude ouvir uma voz inconfundível em minha cabeça, uma das pouquíssimas que me trazia conforto e paz - mal sabia eu que seria a última vez que a ouviria -, era o meu Criador.

"Só há uma virtude capaz de destruir qualquer impureza." Após isso, foi como se meus olhos tivessem se aberto e pude ver que havia um único meio de derrotá-lo.

- Gabriel, Asriel, Miguel, avancem novamente, preciso ter certeza de uma coisa antes de botar meu plano em prática.
Eles acenaram com a cabeça, concordando com as minhas ordens.
- E eu? - perguntou Isabel.
- Não esqueci de você. - pisquei para ela.
- Pare com isso... - disse, meio constrangida - Fale-me logo, o que planeja?
- Já percebeu que de todos nós, você foi a única que ele não conseguiu acertar em nenhum momento.
- Estou fazendo o máximo que posso - com o ar de quem tenta se redimir por ser incapaz de fazer certa coisa.
- Não se preocupes, minha querida. E também percebeu que as armas de Miguel, Gabriel, Asriel e eu, não surtem nenhum efeito nele?
- Antes de você me dizer isso, não.
- É porque nossas virtudes não são o ponto fraco, muito pelo contrário. Sabedoria, força coragem e esperança ainda podem ser usadas para o mal, minha cara. Mas não o amor.
- O que quer dizer?
- Que de nós, você é a única que pode destruí-lo. Essa criatura que só sabe causar destruição, só pode ser vencida pelo amor.

Enquanto expus minha teoria à minha irmã, percebi que meus outros irmãos puderam fundamentá-la de vez para mim. Num breve momento de fúria, Miguel, com a ajuda de Asriel e Gabriel conseguiu acertá-lo de forma certeira com sua espada o torso de nosso adversário, mas de algum modo, ele conseguiu absorver o impacto, e o devolveu para Miguel, arremessando-o muito longe.

Nesse meio tempo, disse o que Isabel deveria fazer. A sua arma, uma espada com duas lâminas opostas e curvadas, formando uma meia lua, poderia ser usada como um arco, concentrando energia nele, sendo possível acumular um poder maior que um golpe normal com as lâminas.

- E se eu não conseguir?
Sempre cheia de incertezas, contradições e conflitos internos. Era assim a natureza de Isabel, fazendo jus à sua virtude.
- Não se preocupe. Apenas comece a concentrar energia em sua arma para disparar quando eu mandar.

Terminando de dizer tais palavras, corri para me juntar aos meus irmãos e logo Miguel voltou ao combate.

- Vossa insistência é deveras admirável, porém muito impertinente, meus caros.

Zasalamel desferiu um golpe contra Gabriel que por pouquíssimo conseguiu desviar e em seguida, com o mesmo impulso atacou a Miguel e a mim, que estavam lado a lado, e com muito esforço conseguimos defender o ataque juntos.

- Já me cansei de vocês!

Gabriel e Asriel tentaram aproveitar-se do momento e investiram contra o monstro que, os repeliu simplesmente com as asas. Miguel e eu também tentamos, porém meu irmão foi acertado em cheio por um chute e só sobrou a mim. Apenas eu, frente a frente com aquela criatura.

- Lúcifer! - exclamou Isabel, preocupada.

Infelizmente, o grito dela, fez com que Zasalamel voltasse sua atenção pra ela e percebeu que em sua arma havia uma quantidade muito grande de energia. Pela primeira vez eu vi um semblante de espanto real da parte dele, naquela luta.

- Vou destruir você, sua insignificante!

Se ele detivesse Isabel, nossa única esperança seria perdida e eu não podia permitir que isso ocorresse. E eu não tive outra escolha quando o vi indo contra ela para não fazer outra coisa que não fosse matá-la. Não seria capaz de segurá-lo, então fui o primeiro ser a fazer a maior estupidez de todas, digna de um ser humano.

- Lúcifer, não!
- Aaaarrghhhh!

Me coloquei na frente de Isabel e recebi o golpe em seu lugar. A espada de Zasalamel atravessou-me o torso.

- Isab...bel.... AGORA!
- Mas o que é isso!?

Um forte clarão tomou aquele lugar e um som muito agudo foi ouvido, alguns segundos depois tudo voltou ao normal, tanto a luz, como o barulho sumiram, assim como Zasalamel. Tudo o que restara agora, eram alguns milhares de irmãos jogados por todos os lados, e os 4 arcanjos se aproximando de mim.

- Irmão! - gritou Gabriel, preocupado comigo.
- Vamos, reaja! - disse Miguel.

O ferimento causado pela espada de Zasalamel não fora comum - se é que pode-se considerar comum um anjo ferido -, estava negro. Nos primeiros instantes, aquilo foi uma sensação terrível, algo que nem mesmo eu saberia expressar com palavras. Era como se houvesse algo morrendo dentro de mim, fui sentindo aos poucos uma outra sensação, algo que me tornou completamente diferente de como eu era originalmente. Comecei a sentir orgulho da minha sabedoria, do meu conhecimento, beleza e poder. Levantei-me lentamente, e por alguma razão, eu vi algo perturbador demais para aquele meu novo eu... Eu vi o futuro.

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